Posts de encerramento de 2013 n. 1. As “to-do lists” em análise psicológica

Eu sou uma pessoa maníaca por fazer listas. Listas de filmes para ver, de livros para ler, de lugares para conhecer, de coisas para comprar.  Tudo, que fique bem claro, sem essa morbidez horrível que aparentemente fez sucesso entre compradores dos livros “antes de morrer”, com o que não tenho preocupação. Mas essas são as listas legais. As listas que você cumpre bem ou mal, ou um pouco melhor, ou um pouco pior, sem que isso te cause maiores problemas ou angústias.

Humberto Eco disse que “A lista é a origem da cultura“. E de fato, as listas talvez sejam a ferramente organizacional favorita da maioria das pessoas hoje em dia. Justamente por isso, o problema são as listas de obrigações mesmo. De coisas necessárias, seja para o trabalho, seja para a vida. As famosas To-Do Lists. Essas, se mal feitas, mal pensadas, mal seguidas, são sim fonte de angústia e frustração. Posso dizer com muita tranquilidade que produtividade, eficácia e eficiência estão entre minhas maiores preocupações não só no trabalho, mas na vida em geral.

Eu li um artigo bem interessante no site Brainpickings, sobre a psicologia do sucesso das to-do lists (http://www.brainpickings.org/index.php/2012/02/09/willpower-to-do-list/). O artigo toma como ponto de partida o livro Willpower: Rediscovering the Greatest Human Strength (Força de Vontade: Redescobrindo a Maior das Forças Humanas, em tradução minha e livre), escrito pelo cientista John Tierney e pelo psicólogo Roy F. Baumeister. Mais especificamente, foca no terceiro capítulo do livro, entitulado “A Brief History of the To-Do List, from God to Drew Carey”. E realmente, tudo parece ter começado na Bíblia, no Gênesis, pois nosso Senhor tinha uma lista de seis tarefas para a criação do mundo, antes de descansar. Além de Deus, o capítulo fala de Benjamin Franklin, um dos pais da República dos Estados Unidos da América, que fazia cuidadosas listas de objetivos a serem atingidos, e chega até o comediante Drew Carey, engajado numa busca de  produtividade pessoal. O objetivo do capítulo é narrar estes casos e histórias, com inserções de experimentos psicológicos e conselhos sobre como transformar as listas em instrumentos de realização e não de frustração.

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O caso de Benjamin Franklin é utilizado para demonstrar um dos erros mais comuns das To-Do Lists: tentar fazer muita coisa de uma vez só e deixar objetivos conflitarem entre si.

Franklin tried a divide-and-conquer approach. He drew up a list of virtues and wrote a brief goal for each one, like this one for Order: ‘Let all your things have their places; let each part of your business have its time.’

When, as a young journeyman printer, he tried to practice Order by drawing up a rigid daily work schedule, he kept getting interrupted by unexpected demands from his clients — and Industry required him to ignore the schedule and meet with them. If he practiced Frugality (‘Waste nothing’) by always mending his own clothes and preparing all his own meals, there’d be less time available for Industry at his job — or for side projects like flying a kite in a thunderstorm or editing the Declaration of Independence. If he promised to spend an evening with his friends but then fell behind his schedule for work, he’d have to make a choice that would violate his virtue of Resolution: ‘Perform without fail what you resolve.’

Como bem apontam os autores, o resultado de objetivos conflitantes é frustração, mas como destacam, talvez o problema todo esteja em escolher os objetivos certos. David Allen, o guru da produtividade, autor do cultuado Getting Things Done: The Art of Strees-Free Productivity defende que devemos nos ater mais a saber claramente quais são nossos “próximos passos”, do que a mirar fetichisticamente objetivos grandiosos. É como eu digo sempre para as pessoas que trabalham comigo, citando Chico Science – apesar de saber que a frase não é originalmente dele: Um passo à frente, e você não está mais no mesmo lugar.

Porque a questão está no nosso cérebro e como ele funciona. Segundo os autores, ele tem um mecanismo de nos deixar incomodados, insatisfeitos, de ficar recorrentemente nos lembrando das coisas não feitas, até que específicas ações concretas sejam tomadas, ainda que sejam apenas passos intermediários do objetivo maior.

Para citar os autores: A moral então: (…) restrinja a sua to-do list a poucos itens, bem específicos, operacionais e não conflitantes.